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terça-feira, 30 de junho de 2009

Crônicas do Zombeteiro: O Amor de Inóspito

Inóspito dos Anjos tinha um Amor, era um Amor já antigo mas que ele vinha cultivando por vários anos, mas nos últimos tempos Inóspito andava distraído, descuidado e seu já velho Amor começou a apresentar pequenas rachaduras, pequenas rachaduras que se tornaram cada vez maiores e mais visíveis.
Um dia Inóspito resolveu colar os pedaços quebradiços, mas quando tocou no Amor ele se esfacelou por completo.
Desde aquele dia Inóspito nunca mais foi o mesmo, sentia-se sozinho, incomodado e um tanto mais leve talvez, já que não tinha mais o trabalho de cuidar do seu velho Amor. Seus amigos já não agüentavam mais vê-lo naquele estado, foi quando sua amiga, Eureka Júbilo, deu-lhe uma grande ideia:
- Larga mão de ficar assim Inóspito, olhe a sua volta, não é tão complicado encontrar outro amor.
- Mas um Amor como aquele? Aquele era especial, era só meu, eu cuidei dele mais do que ninguém e sempre estávamos juntos, eu e meu amor... Você lembra, não lembra?
- Lembro vocês eram tão apegados que iluminavam o lugar onde estivessem, mas agora ele se foi, você tem que aceitar... Já pensou em comprar outro?
- Mas onde eu posso comprar um Amor? Você só fala isso para me aborrecer ainda mais.
- Não falo não, a prova é o camelô que trabalha no centro, dizem ser um grande vendedor de Sonhos, Propício dos Prazeres é seu nome. Vai que ele te vende um Amor? Não custa perguntar.
E lá se foi Inóspito procurar por seu novo amor, ao chegar ao centro da cidade logo se via o camelô com sua tenda aberta oferecendo seus produtos:
- E ai meu amigo, vejo em seus olhos que procura algo grande, vai querer levar a Riqueza? É um preço caro, mas vale o quanto se paga, podemos negociar baratinho se você estiver disposto a dar o seu Caráter no lugar, que tal?
- Não, não é isso que eu procuro, procuro algo especial, um tanto diferente, mas acho que talvez o senhor não possa me dar... Procuro por um Amor.
- Procura um Amor? Olhe meu amigo, sou um vendedor de sonhos, o melhor da região, vendo todos os tipos de sonho... Inclusive o Amor. Mas não são todos que se interessam em comprar o Amor, a maioria quer a Amizade ou a Paixão, são muito mais fáceis de cuidar.
- Eu quero o Amor, mesmo. É o que me falta.
- Ótimo, mas já te dou duas advertências, se me comprar o Amor só posso vendê-lo se você levar de brinde o Ciúme e o Carinho, porque de outra forma o Amor não duraria muito tempo e logo desapareceria. Já a segunda é que este Amor não tem prazo de validade, mas também não tem garantia, não pode comprar Amor e querer trocá-lo por outra coisa.
- Olha moço, eu já tive um e sei como é, a única coisa que preciso é que o senhor me venda logo e acabe com essa minha agonia...
- Esses jovens de hoje, sempre tão apressados em conseguir as coisas, querem tudo e não importa as conseqüências... Não admiro que tenha perdido seu Amor com essa impaciência... - baixou a cabeça e suspirou - Mas está bem, leve seu Amor aqui nessa caixinha, mas não abra de imediato, ouviu bem? O Amor é sempre melhor quando você já perdeu aquela ansiedade de conhecê-lo.
- E quanto é?
- Ora, faça seu preço... Quanto vale o Amor para você?
- Se me incita a barganhar, mas é claro que irei... Tome aqui seus dois contos e ficamos certos.
Inóspito deu um sorriso de orelha a orelha, finalmente tinha achado seu novo Amor, mal conseguia acreditar ele que fora tão fácil de conseguir.
Correu para casa e ao chegar logo pôs seu Amor em cima da mesa e sentou-se numa cadeira para decidir qual seria a melhor hora para abri-lo. Esperou e esperou, observou a caixinha em formato de coração para enfim decidir que não agüentava mais esperar e finalmente abriu a caixa...
Inóspito olhou para o seu Amor, mas não era como o anterior, era mais áspero e pontiagudo do que o outro. Pensava naquele Amor e se sentia enganado “maldito vendedor, na certa não me quis fazer um preço certo, pois sabia que viera estragado... Esse Amor nada tem em comum com o outro”.
Sentindo-se passado para trás Inóspito logo perdeu o interesse por esse novo Amor e quando começou a dar sinais de desgaste, num ato de raiva atirou seu Amor na parede e com o impacto aquele frágil e pequeno Amor rachou-se furiosamente. Assustado, Inóspito percebeu o que acabara de fazer, havia quebrado mais um Amor, e esse não durara quase nada.
Inóspito, que agora se culpava por seu fracasso, foi novamente ao vendedor com os cacos dos seus dois Amores e por um preço muito alto ele conseguiu comprar a Solidão, que com aquela cor pálida e aquele ar de morta, era dura como ferro e não importasse quanto ele a maltratasse ou a odiasse ela jamais quebraria.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Um porre para (não) comemorar a vida.

banheiro imundo da porra
fui me segurando pelas paredes encardidas
o chão cada vez mais próximo do meu nariz
puxo o fôlego e me ajoelho em frente a privada
mas que merda, que merda de vida.
os olhos cada vez mais pesados,
os ouvidos ainda zunindo por causa da música
muito favorável pra um sono profundo
cada vez mais distante de mim...
encosto a cabeça na parede
e foda-se esse cheiro de urina na parede
acendo um cigarro e penso mais umas vezes no que eu to fazendo
penso, penso e não chego a conclusão nenhuma.
as cinzas caem na minha calça e eu quase sinto elas queimarem a minha perna.
alguém entra e ri da minha cara, tira uma foto pra depois
sinto tudo começar a rodar e tento puxar o fôlego pra fingir que adiantaria alguma coisa
finjo sanidade, finjo e continuo fingindo
desmaio
(...)
“vergonhoso”, “deplorável”
estou andando, mas não são minhas pernas
acho que quebrei o pescoço, muito pesado pra levantar
vejo as estrelas, dou risada e antes que saiba o motivo da gargalhada já dormi de novo.
com um vento gelado acordo e sinto que cai novamente
alguém quer respostas me dando bofetadas
eu só sei rir como se estivessem me fazendo cócegas
sinto o corpo leve como se fosse flutuar.
se o vento batesse muito forte penso que levantaria voo.
então eu levanto, minhas pernas estão fortes e leves,
ai eu corro, saio voando...
sou um anjo, acho que morri...
vejo as estrelas piscando e passando aos pares por mim,
aceno e elas retribuem cantando.
mas nesse universo particular alguma coisa me prende
me segura com força e me puxa pro chão
acordo com um pulo
abro os olhos e estou de volta na cama.
já é outro dia
outro qualquer dia detestável.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O Novo Habitante do Céu

J.C. entra correndo e gritando na portaria:
- Pedrão! Pedrão! Fecha as portas e esconde a chave! Não deixa esse maluco entrar aqui não, hein?
- Como assim moleque? Do que é que você está falando? – Pedro, que estava distraído assistindo o jogo do Brasil e África do Sul, responde com voz impaciente.
- Aquele maluco do Michael Jackson tá chegando ai e se você deixar ele entrar vai ser um Deus nos acuda!
- Credo, então essa história é séria mesmo? Achei que era só invenção tipo aquela vez do Elvis, lembra quanta gente ficou esperando aqui na portaria pra ver se encontrava com o cara? Se soubessem que ele só apareceu aqui 10 anos depois...
Nesse momento abrem-se as portas do céu, e após apontar um pé para porta, aquela figura trajando um collant preto cravejado de diamantes, e uma capa vermelha digna de um rei vira-se e vai até o balcão num passo de “Moonwalker” e começa a falar com aquele sotaque de gringo gripado:
- Heeeelo guys! Não acredito que finalmente eu chegar, to exaustízimo, eu até hoje só gostar de ouvir aquela histórria de “segunda estrela a direita e seguir reto até o amanhecer” só porque nunca tive que fazer esse trajeto a pé... Jésuis – J.C. já treme todo – que canseira...
Pedro e J.C. ainda estavam extasiados com a chegada do homem, J.C. dá uma cotovelada em Pedro que puxa o ar profundamente, abre um sorriso meio amarelo e diz:
- Ceeerto, a senhora gostaria de se hospedar aqui, então?
- Ohh yes! Sure! Aqui é tão lindo, tão harmonioso, cheia de vida e ainda tem aqueles anjinhas tão cuti-cuti.
- Errr... E temos um ótimo exercito contra quem sai da linha ou se excede demais.
- hihihi, quanto nervosismo, achei que no Brasil vocês fossem todos mais liberais, adorei aquela visita à Bahia, mas aqui vocês são uns chatos... acho melhor fazermos logo esse cadastro, right?
Pedro meio desconfiado liga o computador e começa a digitar...
- Profissão?
- Cantor.
- Qual a sua maior contribuição pra humanidade?
- Sou a única pessoa que conseguiu nascer homem, pobre e negro e morrer rico, branco e praticamente uma mulher, sou um exemplo.
- éé... Faz sentido...
- Cor dos cabelos e dos olhos?
- Pretos.
- Essa não é piada, mas... Cor da pele?
- Sou um pouco moreno, mas por causa dessa maquiagem fico branco-leite.
- Opção sexual?
- Tem ai um “hetero com leves escapadas”?
- Isso não me cheira nada bem...
- Foi alguma indireta quanto ao meu nariz?
- Não, não, imagine só senhora, digo, senhor... Estava aqui pensando que com todas essas descrições o senhor deve ser facilmente confundido com o Marilyn Manson na hora de efetivar cadastros, não?
- Admito que isso já me aconteceu algumas vezes, mas eu duvido que o Manson iria querer se hospedar num hotel tão cheio de moleques quanto esse. Ele não gosta muito de crianças, by the way... What’s your name, jovenzinho? – dá um aceno e um sorriso pra J.C.
- E-e-eu... Sou Je-je... Jenésio! Isso! Esse é o meu nome.
- Meu Deus do céu! – interrompe Pedro – Estamos lotados! Completamente lotados! Não há mais nenhuma vaga nos próximos 300 mil anos, a Coréia do Norte acabou de atacar os Estados Unidos e fez milhares de feridos, acabei de receber por e-mail a imagem de uma porção de corpos todos deformados pelos ataques...
- Deformado? Olha o abuso, man! Não queira que eu perca a minha paciência com você, right?
- Não é isso seu “Maíque Diekzo” é que nós vamos ter que abrigar todos eles com urgência, é prioridade da casa, e infelizmente o senhor não poderá ficar aqui...
J.C. não perdeu tempo e foi logo dizendo:
- Bom, eu conheço um lugar bem tranquilo e é aqui pertinho... Só você descer a rua, - virar a esquerda e entrar no quinto prédio depois do sinaleiro, não têm como errar.
- Oh My God! Se não tem alternativa, o negócio é eu ficar com esse que você me falou mesmo... Muito gentil da sua parte garotinho, temos que conversar mais vezes, já que você sabe onde eu vou morar não esqueça de ir lá me visitar, ok? Hihihi, bye-bye!
Mal sai aquela figura de roupa extravagante pela porta e Pedro já se volta para J.C.:
- Seu moleque safado... Acabou de mandar ele pro Quinto dos Infernos...
- E se você contar isso pra alguém eu conto pro teu Patrão que você mentiu que o céu estava cheio...
- Ainda bem que você não contou que é fã dos filmes do Macaulay Culkin, né? haha
- Cala essa boca Pedro... Cala essa boca...


ps.: O post abaixo nada tem a ver com a morte do Michael, postar sobre pedófilos e ver o homem morrendo foi pura coincidência que até me assustou. hehe

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cotidiano

A cozinha ficava ligada com a sala, por isso a mãe deixava a criança de 5 anos na frente da tv enquanto fazia o almoço, era um olho no feijão e outro no moleque.
A mãe fazia o almoço quando escuta o menino cantarolando enquanto brincava com o seu boneco do super-homem:

"José-zé, José-zé;
Queria me fazer um cafuné, né?
Queria me fazer um cafuné, né?
José-zé, José-zé;
Foi preso molestando crianças-ças."



verídico.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Sistema

Eu acredito no Sistema
Acredito no politico honesto
Acredito no poder da televisão
Quero poder comer hamburguer direto
e usar um tênis de trezentão

Acredito no Sistema
Mesmo que eu veja
O cidadão inconformado
Tratado como gado
Que quando desempregado
É visto como o ladrão malvado
Enquanto o Dr.Corrupto é sempre respeitado

Acredito no Sistema
E pra acabar com a pobreza,
Com a guerra e a corrupção
Só nos falta a conscientização

Acredito no Sistema
No poder da votação,
No direito do cidadadão.
E acredito que a única revolução
Deveria ser a da informação.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Só para ler - Blecaute (Marcelo Rubens Paiva)



As vezes um charuto é só um charuto, as vezes as coisas acontecem e você conseguindo uma explicação ou não elas continuarão acontecendo.
Marcelo Rubens Paiva não dá nenhuma lição para toda a vida, não te ensina a ficar rico e não faz analise do seu subconsciente, mas te faz ficar preso por horas imaginando a sua vida como seria se...
"Dois amigos e uma amiga ficam presos numa caverna e, quando saem de lá, todas as pessoas estão duras. São Paulo é só deles, e eles podem fazer o que quiserem. Rindu, o protagonista, não sabe o que fazer. E você, o que faria?"

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Uma Viagem de Ácido pra Colorir!




Fiz hoje enquanto matava trabalho e comia paçoca.

Antes que estrague

Ele acordou antes das sete da manhã, se espreguiçou na cama, olhou para a esposa e sorriu, abraçou-a enquanto dormia, deu-lhe um beijo na testa e saiu da cama.
Vestiu sua camisa amarela e seu jeans batido, não era sua roupa mais nova, mas sem dúvida era a que ele mais gostava.
Desceu as escadas e parou em frente à cômoda, olhou para todas aquelas fotos em família, que eram várias, tinha algumas fotos com seus pais, que fazia muito tinham partido dessa vida, fotos dos aniversários de seus três filhos, hoje o mais velho já estava na casa dos 50 e a mais nova estava no auge de seus 30 anos, um pai não poderia se orgulhar mais da família que tinha.
Era conhecido por ser um senhor simpático, as pessoas daquela pequena cidade gostavam muito dele, por isso quando saiu de casa e encontrou o carteiro no caminho, cumprimentou-o com um tapinha nas costas e foi recebido com um largo sorriso e um aceno. Continuou a caminhar e cumprimentou mais alguns amigos que estavam abrindo as lojinhas da cidade, parou em frente à frutaria e perguntou se poderia pegar uma maçã, escolheu a mais vermelha e deu uma bela bocada, parecia que nunca tinha comido uma maçã tão gostosa em toda a vida.
Continuando sua caminhada ele logo avistou aquela montanha, a tal montanha que durante a sua infância foi motivo de medo, graças às conversas dos mais velhos, mas que mais tarde tornou-se motivo de aventuras durante sua mocidade. Era para lá que ele iria, ele tinha que fazer aquilo, tinha que escalar até o topo e ver por si mesmo.
Durante sua subida ele foi pensando nos seus 68 anos de vida, todos dentro daquela cidadezinha no interior do estado, lembrou dos amigos de infância, da primeira e da última namorada, do primeiro emprego, que mais tarde ele se deu conta que era muito parecido com o emprego atual, e ali consigo mesmo foi dando boas gargalhadas, tantos bons momentos...
Finalmente chegou ao topo, o vento gelado batia forte contra seu rosto, era uma gostosa sensação.
Enfim sós, ele e o topo, sentou-se numa pedra, bem na pontinha do morro, de lá ele via a cidade toda e imaginava como ela havia crescido nesses últimos anos, de um pequeno amontoado de casas até hoje, uma cidade que possuía até prédios. Fez uma lista mental de todas as pessoas que ele conseguia lembrar desde a infância.
Ergueu a cabeça, viu o lindo dia, aquele sol da primavera, respirou fundo mais uma vez, deu uma boa gargalhada e pulou...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Entrevistando Deus

Toca o interfone:
- Doutor, tem uma moça aqui querendo subir, disse que tem hora marcada com o senhor, é verdade a procedência?
- hiii, rapaz! Esqueci que a moça do jornal vinha hoje aqui pra entrevista. Pedrão, faz o seguinte, segura a moça ai na portaria até eu pentear os cabelos e dar uma escovada nos dentes.
Deus desliga o telefone as pressas, bate o pó dos móveis, pega o pente no bolso do paletó, penteia o cabelo, abre a gaveta, pega um drops de menta e abre a porta todo sorridente:- Olá minha doce jovem! Estava te esperando faz horas... hehe
- Olá... oww... nossa! – a moça suspira fundo e encara Deus.
- Hum? Que foi? Ahh, você deve estar se perguntando o que é isso na minha testa, certo? Não liga não, foi só uma aposta que eu perdi, mas daqui um mês vai ser como se nunca tivesse existido... hehe.
- Claro, Claro... – puxando o ar agora e respirando mais calma.
- Vamos, sente-se aqui - Deus arrasta duas poltronas de modo que elas fiquem uma de frente para outra - Então, quer beber algo? Não posso oferecer muita coisa, J.C. está naquela fase de pregar peças e transformou toda a água da caixa d’água em vinho... É a terceira vez esse mês, esses garotos...
- Não... Obrigada...
- Ora minha filha! Não fique acanhada! É só falar que a Madá já te traz alguma coisinha.
- Não é isso... é que, uau, é o Senhor mesmo? Desculpe a falta de profissionalismo, mas nossa... Uma entrevista com Deus não é a toda hora!
- hahaha... Não se incomode minha querida, você não é a primeira a ficar assim, já ouviu aquela história do Moisés gago depois de falar comigo? Simplesmente hilária! Nos tempos que eu costumava andar pelo Egito, fui falar com ele e de repente “puft!” a voz sumiu e ninguém mais entendia o que o homem queria dizer... hahaha. Mas vamos ao que interessa, pode prosseguir.
- Está bem, vamos começar pelo seu nome completo, certo?
- humm... Atualmente me Conhecem por Deus, mas sabe como esse povo gosta de por apelidos na gente, né?
- Já me chamaram de Pai, Javé, Senhor-de-sei-á-onde, Krishna... depende da época.
- Kri... o que?
- Krishna... com “S-H”, era assim que uns amigos da época da minha juventude me chamavam, sabe aquela época em que você é todo paz e amor?
- Ceeerto, o Senhor parece ser alguém sempre de bom humor, o que se deve esse sorriso estampado no rosto?
- Veja bem, meu trabalho é a minha satisfação, antigamente eu tinha algumas centenas de planetas pra criar e era muito cansativo, mas depois você começa a perceber que cuidar de um só dá muito mais certo e muito menos trabalho, hoje eu administro a Terra, e você não tem noção de como isso é divertido, acredita que esses dias eu fiz até chover sapos? A cara de susto das pessoas era simplesmente impagável... Demais!
- Ora só, vejo que isso deve tomar muito o seu tempo, então quer dizer que o Senhor fica nesse escritório o tempo todo?- Mas é claro que não! Imagine só, sempre que posso eu tiro umas férias e deixo algum estagiário pra cuidar das coisas...
- Quantas pessoas o Senhor tem trabalhando aqui no escritório atualmente?
- 11... eram 12 mas eu tive que demitir um deles esses dias, J.C. e ele andaram se estranhando e antes que desse briga tive que mandar ele embora...
- E a “Madá”?- Ahh, sem a Madalena eu não vivo, a mulher passa, cozinha, arruma os quartos, essa Madá merece o céu, isso sim.
- Por falar em céu, quais são as exigências pra conseguir entrar?
- Essas são muitas, sem dúvida alguma, mas é aquela coisa, repartição pública é tudo igual, só muda o endereço, sempre rola uma burocracia, mas no fim a gente acaba empurrando e vai passando todo mundo pra ver se alivia o processo.
- Nossa, se o Céu anda assim nem quero imaginar como é o inferno.
- Inferno? É uma zona completa! Mal administrado, gente arrogante metido a ditador mundial andando pra todo lado, gostoso é o cheiro de churrasquinho, às vezes bate aquele cheirinho perto da hora do almoço e já dá água na boca.
- O Senhor disse que o Inferno é Mal Administrado, foi uma critica direta ao Diabo?
- O Diabo? O Diabo é uma bicha! O cara não sabe perder, não ganhou no carteado e saiu todo revoltado dizendo que nunca mais voltava, que não precisava da gente e blá-blá-blá... Falar disso realmente me incomoda, dá pra passar pra próxima pergunta?
- Certo, vamos fazer um jogo rápido? Eu pergunto e o Senhor responde em uma palavra, pode ser?
- Claro, parece divertido!
- Vamos lá... Céu?
- Las Vegas.
- Inferno?
- A crise econômica e essa centena de pedidos de socorro.
- Arrependimento?- Não ter inventado aquele maldito Pikachu, já viu a grana que aquela franquia dá? Nossa... Imagine se tivesse sido eu... (suspiro)
- Dizimo?
- que é isso?
- Casamento entre homossexuais?- Essa é polêmica, hein?
- Imoral?- Imoral é o Zé do Caixão de sunga vermelha na praia.
- Reencarnação?- Se todo mundo reencarnasse eu teria muito menos trabalho, concorda?
- Filme?- Do Mel Gibson.
- Diabo? ops, tava na guia e eu esqueci de apagar...
- Ora essa! É muita ousadia, hein? Já não te falei que não gosto de tocar nesse assunto? Eu te recebo com todo o carinho na minha casa e é isso que você me apronta? Ingrata... Vou chamar o segurança...
- Não! Pelo amor de Deus, desculpe-me!
Deus aperta o interfone e aos berros:
- Golias! Venha tirar essa moça daqui!
Entra um brutamontes barbudo com um terno Armani, pega a jovem brutamente pela cintura e a leva aos berros para fora da sala debaixo do braço esquerdo...


Alguns dias depois uma irritada jornalista transforma sua matéria em um livro chamado “Antigo Testamento” contando como um Deus mal humorado trata o povo que discorda dele. A franquia deu tanto dinheiro quanto Pokémon e obteve diversas continuações... mas isso é uma outra história....

Moral da história: Sempre tome cuidado com dois tipos de pessoas, as mulheres e os jornalistas, você nunca sabe como vai ser a vingança.

Uma entrevista com Deus