Primeiro, ficou bem claro que o roteiro é fraco, especialmente os diálogos, e é muito previsível. Cheguei a adivinhar, em detalhes, certas cenas muito antes delas aparerecem. A última cena, por exemplo, faltando uns quinze minutos pro final do filme, eu já sabia exatamente qual seria.
Este é um dos primeiros filmes que posso dizer que tem efeitos gráficos REALMENTE impressionantes. O cenário é realista, bonito e atraente; Os animais são convincentes e únicos; desde os pequenos animais às mais gigantescas plantas tudo é bem alienígena e estranho, mas mesmo assim, realista; apesar de ter um design pouco convincente, os na'vi com a tecnologia de captura 3d de Cameron são vivos e pulsantes, personagens com presença na tela; e talvez o mais evidente, o filme é feito para ser assistido, e só pode plenamente aproveitado, em um bom cinema 3D. As tomadas, posicionamento de câmera, movimento na tela, tudo é estruturado pra aumentar a potência da experiência 3D.
Em termos de enredo, o filme começa com uma não-tão-breve introdução ao contexto da história, explicando bem por cima o que é e porque Pandora é tão importante, além de introduzir os personagens na trama. Sam Worthington, que alguns vão lembrar do Terminator Salvation, é o protagonista Jake Sully, um fuzileiro paraplégico que toma o lugar de seu irmão cientista no projeto Avatar e vai pra Pandora continuar seu trabalho. O projeto é, basicamente, uma maneira de tentar interagir com os nativos - uma espécie de 'missão jesuíta' só que substituindo a religião por ciência. Os na'vi sabem que os avatares são controlados por humanos - eles se referem aos cientistas nos avatares como 'dream walkers'. Jake eventualmente é recrutado sigilosamente pelos militares de Pandora para fazer reconhecimento e inteligência para um eventual ataque.
Obviamente Jake acaba fazendo contato com os na'vi, quando uma deles, Neytiri, quase o mata. Por algum motivo absurdo, o clã decide aceitá-lo e treiná-lo porque ele é um guerreiro e não um cientista. Porque, todo mundo sabe, é muito mais fácil confiar num sociopata homicida do que numa pessoa racional e aberta a outras culturas.
Eventualmente ele se torna um dos na'vi e se apaixona por Neytiri, acabando entre a pressão do poderio industrial dos humanos e o seu lado 'flower child' recém descoberto. Nesse momento, a história se torna praticamente Dances With Wolves (TATANKA!). Com a mesma estrutura básica, (homem da civilização é mandado pra interagir com civlização indígena/primitiva, se infiltra entre eles, é aceito e eventualmente se torna um deles ao ponto de defendê-los contra seus irmãos civilizados...) os elementos estão todos lá: narração em forma de diário do ponto de vista do protagonista, personagem forte feminino como guia para ele, várias lições e testes que forjam o espírito natural no personagem principal, conflito entre a vida regressa do protagonista e a paz de espírito encontrada na nova vida do mesmo, guerreiro fodão que antagoniza a princípio depois forja laços de amizade, chefe forte e corajoso, xamã sábio e respeitável... é quase um remake. Isso não quer dizer que a história é necessariamente ruim, entretanto. Só é meio que mais do mesmo.
Nos últimos quarenta minutos, James Cameron demonstra seu entusiasmo e amor pelas suas criações quando começa a destrui-las e pôr fogo no seu mundinho. A ação no final é frenética, e muito foda. Tudo, desde as naves aos ikrans (bichos voadores que parecem pteranodontes usados como montaria pelos na'vi), é muito bem renderizado e inserido nas cenas - e a direção de Cameron brilha nestes momentos. Mas, no fundo, não me senti muito convencido. Acho bastante improvável que mesmo o melhor arqueiro do mundo tenha muitas chances contra alguém portando uma metralhadora pesada que atira 20 mil balas por minuto. Sem contar que o poderio militar dos humanos é meio que excessivo, eles tem muitos recursos, tornando muito difícil a possibilidade de uma vitória dos na'vi. Pode ser que eu esteja sendo chato, então, admito que minha opinião neste caso é meio duvidosa. Portanto, resumidamente, as cenas de ação no final são boas e o combate, tanto o mano-a-mano quanto os de grande escala, é intenso, bem feito e interessante. Mas não me convenci.
O final é meio inverossímil (mas também, depois de quase três horas em Pandora com os Thundersmurfs, é meio tarde pra querer enredo e mensagens profundas) e otimista demais.
No final das contas, no entanto, eu gostei muito. Vale a pena. Todos os defeitos combinados não superam o apreço e a dedicação que o elenco, o diretor e todos da produção parecem ter dedicado ao filme - e o resultado final transparece isso. Por mais tacanho que o diálogo pareça às vezes, Cameron parece acreditar tanto nas suas criaturas e no seu mundo, que nos convence e comove. Os na'vi, por mais bizarros que sejam, tem uma personalidade e um charme únicos. A ação, por mais que ela exija uma suspensão de descrença absurda, é bem feita e bem pensada, além de ser muito mais do que as explosões cacofônicas e desordenadas do cinema dos últimos anos. Minhas expectativas, apesar de modestas, foram muito bem satisfeitas - e na medida do possível, Avatar é um bom filme, divertido e impressionante. Eu recomendo ver no cinema, se possível em 3D.